Mulheres, homens e as cores

Mulheres, homens e as cores

Bordô, carmim, cereja, escarlate, terracota, cardeal, coral... ou simplesmente vermelho?

Para a maioria dos homens, simplesmente vermelho. Para a grande maioria das mulheres, ah... são tantas tonalidades, que nos fazem pensar até na hora de escolher o tom do esmalte (pois, sim, existe diferença entre um “vermelho-ivete” e um “vermelho-chama”!). A sabedoria popular já diz, há muito tempo, que os homens apresentam maior dificuldade em diferenciar tons de cores em relação às mulheres.

A notícia interessante é que já existe comprovação científica para este fato: os artigos norte-americanos intitulados “Sex and Vision I” e “Sex and vision II” mostraram que existem, sim, diferenças na visão entre a maioria das mulheres e homens. Foram avaliados jovens universitários com visão normal. Os participantes masculinos apresentaram dificuldade significativamente maior que mulheres em diferenciar pequenas diferenças de tonalidades de cores. Por outro lado, eles obtiveram maior facilidade que elas em diferenciar detalhes em movimentos rápidos. Considera-se que a provável causa para tal fato esteja relacionada à quantidade de testosterona (o hormônio masculino) e sua interação em receptores cerebrais.

Embora esta diferença tenha sido significativa e comprovada, é importante saber interpretar os estudos: estes avaliam as alterações que ocorrem na maioria das pessoas, e nunca devem ser tomados como regras absolutas. Ou seja, não significa que ocorre em 100% dos homens, nem em 100% das mulheres. Caso contrário, não teríamos homens com tanto renome em artes e cores, como estilistas, pintores, decoradores, nem mulheres com tantas habilidades que envolvem visão detalhada de movimentos, como caça e tiro. São avaliações sobre a maioria dos casos, mas há sempre mais fatores envolvidos.

E o daltonismo? Este caso é diferente, pois trata-se de uma alteração genética, a qual dificulta a diferenciação entre certos tipos de cores, e não apenas suas tonalidades. Na maior parte dos casos, esta dificuldade ocorre entre diferenciar verde e vermelho. Para entender como funciona: na retina, temos células especializadas em diferenciar as cores – essas células são chamadas de cones. Os cones são de 3 tipos: especializados em detectar vermelho, verde ou azul, e é a interação entre eles que faz com que percebamos esse universo quase infinito de cores à nossa volta.  Quando existe defeito em alguma dessas células, está estabelecido o daltonismo, que é a dificuldade em diferenciar entre um ou mais tipos de cor. Quando todas as células estão ausentes ou não-funcionantes, temos a acromatopsia (dificuldade total na diferenciação de cores).

Em mulheres, o daltonismo é extremamente raro. Já em homens, é muito comum: até quase 6% dos homens tem algum grau de daltonismo! Ou seja, em um grupo de 50 homens, é altamente provável que 1 a 3 deles tenham daltonismo – e muitos nem sabem que têm! A doença costuma não alterar a qualidade de vida e nem a habilidade em dirigir. Por este motivo, os semáforos mantêm a posição da cor vermelha sempre em cima, para que aqueles com dificuldade em diferenciar verde-vermelho saibam que se trata da luz de “pare". No entanto, ter seu diagnóstico estabelecido pode poupar discussões e facilitar o dia-a-dia. Existem diversos estudos avaliando opções para tratar/amenizar o daltonismo, mas deixaremos esta parte para outro texto. Além disso, é importante sempre ter uma avaliação especializada, para descartar outras causas. O daltonismo é normalmente congênito e permanente, ou seja, a pessoa já nasceu com tal deficiência e esta alteração não muda ao longo dos anos. Quando ocorre qualquer alteração na percepção de cores em outros momentos da vida, é extremamente importante avaliar com oftalmologista para investigar outras patologias.

Enfim, agora está explicada a eterna discussão sobre cores de esmalte. ;)

 

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Categoria: Oftalmologia

Dra. Maiara Dalcegio Favretto

Oftalmologista • CRM/SC 15895 • RQE 11163